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27 de fev de 20172 min

AS ILHAS MÍTICAS DO IMAGINÁRIO LUSO – Amores

AMORES

“É questão controversa a da situação geográfica da Ilha dos Amores, melhor dita Namorada, cantada por Luís de Camões, nos Cantos IX e X de Os Lusíadas.

Malhoa, A Ilha dos Amores (óleo sobre tela, 1908)

De facto, são de descartar todas as localizações da “Ilha de Vénus” no Índico: Angediva (Faria e Sousa), Bombaim (Luís da Cunha Gonçalves), Zanzibar (José Gomes Monteiro), Ceilão, etc. Tal como, mercê da sua incongruência, todas as respectivas localizações atlânticas: Ascensão e Santa Helena (organizador da Edição dos Piscos – 1584, Miguel Leitão de Andrade e Fernão Álvares do Oriente), São Tomé e Príncipe, Bijagós, Cabo Verde, Açores, Madeira (Luís A. Rodrigues Lobo, Henrique Manuel da Torre Negra), ou Berlenga Grande.  Nem, tão pouco, Sintra, como advogou Henrique Lopes de Mendonça, é susceptível de alcandorar-se ao estatuto da ilha, galardão dos portugueses, a qual ocupa um lugar proeminente em pleno “Mar Tenebroso”, porém não se situa na “volta da Mina”… Trata-se, efectivamente, de um local imaginal, o que não é sinónimo de ilha ficcional (irreal, ou de fantasia), como equivocadamente depreenderam muitos hermeneutas camonianos (Manuel Correia, Conde de Ficalho, Epifânio Dias da Silva, José Maria Rodrigues, Morgado de Mateus, Adamson, etc.). Para elaborar o cenário e a narrativa em apreço Camões radicou nas tradições clássica e oriental, e no que a esta concerne, designadamente, nas correntes mazedeistas e sufis do xiismo persa. Tendo em consideração o carácter eminentemente plástico da Regaleira e o libreto que a sua cenografia pressupõe (Divina Comédia, Os Lusíadas, etc.), é minha convicção, também face aos referenciais poéticos (Dante, Camões, etc.) e metafísicos (Templarismo, Cavalaria do Amor e Sebastianismo) de António Augusto Carvalho Monteiro, que dessa sua casa e autêntico refúgio (castelo) existencial (destinado ao usufruto privado, portanto encerrado ao público), dimana o Teatro da Vida Humana (de todos quantos, heróis ou santos, aspiram à “libertação da Lei da Morte”), figurado numa peregrinação alegórica, do género das expressas pelo episódio da Ilha Namorada, consabidamente inspirado na ascensão do Monte da Perfeição, arquétipo de todos os Sacro-Montes (Carmelo de São João da Cruz, por exemplo).”

Vieira Portuense, Banquete na Ilha dos Amores

Vieira Portuense, Vasco da Gama na Ilha dos Amores

 Fragmento do livro GUIA TEMPLÁRIO DE PORTUGAL: A DEMANDA DAS ILHAS MÍTICAS, Gandra, Manuel J., novembro 2016

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