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14 de jan de 20192 min

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA – José Saramago

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA – José Saramago | Especial Ficção Científica

Na atualidade, ENXERGAR o mundo tal como ele é, portanto, sua REALIDADE (boa ou má) tornou-se um horror, é proibido VER a verdade tal como ela é. Todo mundo quer ser “feliz” e não ter nem enfrentar “nenhum problema”. O cenário de DISTOPIA cognitiva marca o século XX e parece querer deitar morada no século XXI.

No Brasil, a “luta” contra a cegueira implica na defesa de mais cegueira. Virou “norma culta” que uma ideologia se combate com mais ideologia, que uma agressão se combate com mais agressão, que há sempre a necessidade de um “inimigo” para manter a chama da “vida”. O cenário sócio-cultural do Brasil atual remete à obra de Saramago “Ensaio Sobre a Cegueira” (1995).

A obra narra a história da epidemia de cegueira branca que começa com um homem sentado no seu carro parado no semáforo que tem ataque de cegueira e toda pessoa que entra em contato com ele fica cego também. A cegueira se espalha por uma cidade, causando um grande colapso na vida das pessoas e abalando as estruturas sociais e culturais. Os cegos passaram a seguir somente os seus instintos animais, sobreviviam como nômades, barbarizando-se mutuamente, vivendo na imundície, na imoralidade e na tirania. Somente uma mulher escapa desta epidemia de cegueira.

O governo, para isolar os cegos do restante da sociedade ainda sã, dirige aos cegos um tratamento disciplinar impessoal, hierarquizado e autoritário, transformando o manicômio aonde estão os cegos em um campo de concentração, comunicando aos internos através de um alto-falante a mensagem:

“O Governo está perfeitamente consciente das suas responsabilidades e espera que aqueles a quem esta mensagem se dirige assumam também, como cumpridores cidadãos que devem de ser, as responsabilidades que lhes competem, pensando que o isolamento em que agora se encontram representará, acima de quaisquer outras considerações pessoais, um acto de solidariedade para com o resto da comunidade nacional. Dito isto, pedimos a atenção de todos para as instruções que se seguem, primeiro, as luzes manter-se-ão sempre acesas, será inútil qualquer tentativa de manipular os interruptores, não funcionam, segundo, abandonar o edifício sem autorização significará morte imediata… décimo quinto, esta comunicação será repetida todos os dias, a esta mesma hora, para conhecimento dos novos ingressados. O Governo e a Nação esperam que cada um cumpra o seu dever. Boas noites” (pág.50-51).

Noutro trecho da obra temos o seguinte diálogo:

“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem”.

A epidemia de cegueira descrita é a ALEGORIA sobre o horror vivenciado, mas, não visto.

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