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AMULETOS da Tradição Luso-Afro-Brasileira – BÊNÇÃO

Gesto mágico, por vezes acompanhado de fórmula recitada, rito ou cerimónia realizados quer para implorar de Deus um benefício (bênção invocativa), quer para sagrar pessoa ou objecto (bênção constitutiva). As bênçãos constitutivas podem ser verbais (quando se fazem sem a aplicação de óleos sagrados) e reais (com aplicação de óleos), sendo estas mais conhecidas por sagrações ou consagrações. A bênção ao modo judaico (colocando a mão sobre a cabeça e passandoa pelo rosto abaixo) foi objecto de diversas denúncias no Santo Ofício. O doutor António Homem foi acusado de lançar bênçãos durante certas cerimónias a que presidira. As Constituições sinodais estabelecem diversos interditos no que respeita as bênçãos: “Nem benzam com espada que matou homem ou que passasse o Douro e Minho três vezes” (Évora, 1534, XXV, 1); “Outrossim defendemos que nenhuma pessoa benza de enfermidades a outra qualquer pessoa, nem benza gado, cães, bichos, nem outra qualquer coisa, nem amentem, nem encomendem com superstições o gado perdido, sem primeiro nos manifestar a nós ou a nosso Provisor, o modo e as palavras de que usam e livro por que as dizem, para que sendo tudo examinado e visto se há nisso alguma superstição, lhe seja dada ou negada licença para o fazer” (Porto, 1585, XXI, I); Outrossim defendemos que pessoa alguma não benza cães ou bichos ou outra qualquer coisa nem use disso sem primeiramente haver para isso nossa autoridade. E o que fizer o contrário pomos em ele sentença de maior excomunhão e o havemos por condenado em mil reais para a nossa chancelaria e meirinho” (Lisboa, 1588, XXV); Mandamos que ninguém neste nosso Bispado benza gente, gado ou outros animais” (Algarve, 1673, V, 8). Bênçãos de Jesus nos Evangelhos: Mateus, VIII, 1-4; Marcos, I, 40- 45; Lucas, V, 12-14. Locuções: Deixa-me benzer com a mão canha [esquerda] para o diabo não dizer que é manha (Lisboa); Até me benzi com a mão canha [esquerda], para a direita não ter manha (Penafiel).

Bibliografia: ANÓNIMO, Collecção de bênçãos ecclesiasticas […] extrahidas dos pontificais, e rituais romanos antigos, e modernos e dos authores liturgicos […], Porto, Antonio Alvarez Ribeiro, 1797; ANÓNIMO, O Livro dos Mysterios ou Manual de exorcismos, Bençãos e Excomunhões aplicaveis a todos os vexames do demonio e em todos casos de doenças suspeitas em pessoas, gados e fructos, feiticeiras e azares, Lisboa, Livraria do Pvo de Francisco Silva, s. d. e Lisboa, Arquimedes Livros, 2006; BRAGANÇA, Joaquim de Oliveira, A bênção do peregrino nos códices portugueses, in Didaskalia, n. 4 (1974), p. 223-228 [BN: R 13600 V]; DIAS, Geraldo J. Amadeu Coelho, Origem medieval do compasso-visita Pascal: a bênção das casas, in Lusitânia Sacra, s. 2, n. 4 (1992), p. 83-97; HUM RELIGIOSO DE S. FRANCISCO DA SOLEDADE, Manual breve: collecçao de bençaos, e absolviçoes; forma de metter terceiros, e deitar bentinhos, exorcismos da Igreja, e modo de assistir aos moribundos composto […], Porto, António Alvarez Ribeiro, 1788 e Tipografia de Viúva Alvarez Ribeiro & Filhos, 1825

Fragmento do livro AMULETOS da Tradição Luso-Afro-Brasileira de Manuel J. Gandra

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