Banhos rituais têm lugar em determinados dias, em vários pontos do mundo. Também denominado *banho da meia-noite e *banho das nove ondas. Talvez o banho santo mais famoso de Portugal seja aquele que ocorre pelo São Bartolomeu (24 de Agosto).
Em São Bartolomeu do Mar (Esposende), localidade que se diz fundada pelo diabo: os romeiros levam os filhos menores de sete anos que são mergulhados no mar pelo sargueiro ou sargueira e depois bentos com o sinal da cruz. O sentimento mais generalizado é o de que este banho, que vale por sete banhos vulgares, além de espantar o medo das crianças (que mergulhem sete vezes e urinem na água), afugenta a gota e cura os epilépticos, também chamados endemoinhados. É costume antigo que as crianças neste dia ofereçam a São Bartolomeu, um pinto (ou um frango) preto, o qual, antigamente, era mantido numa capoeira improvisada que era armada junto da pia baptismal da capela, até ao leilão (realizado após a procissão), cujo produto revertia para o santo. Outros banhos santos: Figueira da Foz (23 e 24 de Junho); praia da Costa Nova, na barra de Aveiro (véspera de São João), muito concorrido por homens e mulheres de Ovar e da Murtosa; Nelas (São Bartolomeu); Leça da Palmeira (São Bartolomeu); Foz do Douro; Matosinhos (São Bartolomeu); Senhorim (Mangualde), no rio, cuja água cura todos os males no dia de São Bartolomeu; Seixo de Ansiães (Carrazeda de Ansiães), no rio Douro, no dia de São Bartolomeu, levando de lá cabaças de água que cura doenças; São Bartolomeu de Cavês, no rio Tâmega são lavadas as crianças afectadas por alguma moléstia, fazendo parte do acto o lançar pelo rio abaixo a camisa do enfermo; etc. Canções alusivas ao banho santo na Figueira da Foz: “Na noite de S. João, / fui tomar banho ao mar; / apeguei-me c’o santinho / para o mar não me levar”; “Adeus, terra da Figueira, / adeus, ó lindas romeiras, / adeus, rico banho-santo, / adeus, ranchos e fogueiras”.
Bibliografia: CALLIER-BOISVERT, Colette, Survivances d’un bain sacré au Portugal – S. Bartolomeu do Mar, in Bulletin des Études Portugaises de l’Institut Français au Portugal, nova série, t. 30, 1969, p. 347-367; DIAS, Carlos Malheiro, O Banho santo – véspera de S. João na barra de Aveiro, in Atlântida, n. 10 (1917), p. 306-310; DIAS, Jorge, Banhos Santos, in Actas do Colóquio de Estudos Etnográficos Dr. José Leite de Vasconcelos, v. 3, Porto, 1960, p. 195-200; FELGUEIRAS, Guilherme, Aspectos populares da antiga romaria de S. Bartolomeu em Leça, Matosinhos e praias nortenhas – o banho santo, diabruras e crendices encaradas na terapêutica supersticiosa, in O Tripeiro, n. 9 (1964), p. 267-270; LANDOLT, Candido, Folk-Lore – A água do mar nas superstições e crenças populares, in A Póvoa de Varzim, v. 3, n. 7 (1914); LOUREIRO, J. Pinto, O Concelho de Nelas, in O Instituto, n. 97 (1940), p. 319- 332; OLIVEIRA, Ernesto Veiga de, A romaria de S. Bartolomeu do Mar em Esposende, in O Comércio do Porto (8 Ago. 1959); SOARES, Franquelim Neiva, A romaria de S. Bartolomeu do Mar e o seu banho santo, 1988; THOMAZ, Fernandes, Crenças e superstições populares do Concelho da Figueira da Foz, in O Arqueólogo Português, v. 7 (1902), p. 98; VASCONCELOS, José Leite de, Banho Santo, in Boletim de Etnografia, v. 2 (1923), p. 34-35 [banho santo da Figueira da Foz]; idem, Superstições dos rios encarados geneticamente, in Revista Lusitana, v. 29 (1931), p. 170-182
Fragmento do livro AMULETOS da Tradição Luso-Afro-Brasileira de Manuel J. Gandra
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