Na história de Portugal do século XVIII poucos personagens foram tão polêmicos como Pina Manique. Protegido do Marquês de Pombal, funcionário da Rainha D. Maria I, exerceu inúmeros cargos e funções que lhe deram enorme poder político. Lhe é atribuída uma carta furiosa em 1795 endereçada ao Duque de Cadaval, onde por 3 vezes CAGA para o Duque.
Naquela altura “cagar” sempre foi expressão chula (segundo o padre Rafhael Bluteau (1792) e era uma expressão empregada entre as “gentes” de baixa escala social, do que das classes superiores. No entanto, e exatamente por isso no presente caso, em se tratando de missiva entre altas personalidades do governo, este linguajar é inovador e indicativo de rumos outros. Pina Manique combateu ferozmente a maçonaria donde certamente seu tom furioso. O Príncipe Regente D. João viu-se obrigado a demití-lo em 1803 “a pedido” de Napoleão Bonaparte. Manique morre em 1805. O Duque de Cadaval pertencia a maçonaria que foi fortemente combatida no reinado de D. Maria I(vide texto anexo). Portanto, antes da Família Real mudar-se para o Brasil em 1808 a maçonaria já fazia estragos em Portugal e Pina Manique foi um dos que a combateu ferozmente.
Embora Manique já tivesse morrido um fato merece destaque. A maçonaria portuguesa e a revolução pernambucana de 1817 cogitavam substituir o Duque de Cadaval por D. João VI, portanto, antes da “Independência” do Brasil projetos revolucionários de deposição do monarca já existiam (vide: A outra independência: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824″, Evaldo Cabral de Mello). “Duque de Cadaval é um título nobiliárquico criado por D. João IV, por Decreto de 26 de Abril de 1648, a favor de D. Nuno Álvares Pereira de Melo (1638-1727). A Casa de Cadaval tem a mesma varonia que a Casa Real de Bragança, já que descende da Casa de Bragança por D. Álvaro de Bragança.
O Brasil de hoje precisa também de CAGAR para os movimentos políticos revolucionários, mas que seja com conteúdo, estratégia e inteligência. Somente gente inculta usa palavrão e insulto para ofender o oponente. Palavrões e insultos são armas de guerra. Saber usá-los é um dever cívico.
“Exm.º Sr. Duque de Cadaval:
Se meu nascimento, embora humilde, mas tão digno e honrado como o da mais alta nobreza, me coloca em circunstância de V. Ex.ª me tratar por TU, caguei para mim que nada valho.
Se o alto cargo que exerço de Corregedor da Justiça do Reino em Santarém, permite a V. Ex.ª, Corregedor Mor da Justiça do Reino, tratar-me acintosamente por TU, caguei para o cargo.
Mas, se nem uma nem outra coisa consentem semelhante linguagem, peço a V. Ex.ª que me informe com brevidade sobre estas particularidades pois quero saber ao certo se devo ou não cagar para V. Ex.ª.
Santarém, 22 de Outubro de 1795” Pina Manique, Corregedor de Santarém
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